Livraria Solidária

Abril, 25 2021

As idéias começaram a surgir… vender coisas de culinária já havíamos experimentado; partimos para bazares e pensamos até em bingos. Coisas que não temos muita habilidade.

Aí ganhamos uma coleção de livros infantis. A Lu resolveu colocar no instagram. Vendemos tudo em poucas horas. Pronto, temos um negócio interessante aí…

E foi assim que a Livraria Solidária começou.

Em poucos dias começamos a receber grandes volumes de doações de livros.

A Lu sempre muito criativa e antenada, descobriu as feiras de rua que estavam bombando em São Paulo. Começamos a mandar emails e directs para todas elas.


"Oi, temos um trabalho com educação de crianças pequenas na Tanzânia e usamos a Livraria Solidária como nossa principal forma de gerar recursos para manter nossa ONG com nosso próprio esforço. Podemos participar da sua feira?"


Diversas mensagens e e-mails foram ignorados, mas alguns abriram as portas generosamente para nós.

Participamos de todas que apareciam. Aos poucos começamos a ser convidados para participar. Nunca nos cobraram nada.



Uma das primeiras feiras que abriu as portas para nós foi a Mixtura Criativa. Lá criamos um sentimento de família. Passamos a pertencer aquele lugar.

Praticamente todo final de semana tínhamos feira para fazer. Eram mais de 500 livros que eram ensacados, colocados no carro e levados para São Paulo. No início colocávamos os livros em uma mesa e espalhávamos os que não cabiam na mesa em sacolas no chão. Víamos a paixão das pessoas que gostam realmente de ler. Muitos se sentavam no chão para procurar livros como se estivessem nos pufes da Livraria Cultura.



Com o tempo eu imaginei que teríamos uma estante móvel. Eu queria expor os livros de forma digna. Desenhei uma estante desmontável e pedi para um marceneiro amigo nosso fazer. A estréia da estante teria que ser no Mixtura Criativa. 8 prateleiras, 48 parafusos. Demorava uma hora e meia para montar tudo, mas era muito prazeroso. Muitas vezes nem terminamos de montar e tinha cliente já pegando livros nas sacolas ou na estante ainda em finalização.



Com o tempo começamos a ganhar clientes fiéis. Alguns iam à feira só para nos visitar e ver as novidades dos livros. Outros iam só para conversar conosco e saber como estavam nossas crianças. Alguns padrinhos e madrinhas de hoje conhecemos em conversas longas sobre nosso trabalho enquanto escolhiam livros.


Alguns clientes se tornaram personagens da Livraria. Como um senhor com bem mais de 80 anos e que procurava livros de poesia. Com uma memória invejável ele recitava poemas longos e nos deixava boquiabertos de tanta vitalidade.

Um outro senhor que sentava em frente das prateleiras para olhar livro por livro até escolher os seus.

Havia também um casal improvável que andava com um carrinho de feira e uma latinha de cerveja cada um. Passavam o dia indo de um lugar ao outro e terminavam seu passeio conosco na livraria. Eram extremamente cultos e inteligentes. Compravam diversos livros em cada encontro e sabiam muito mais que nós sobre autores e assuntos diversos.

Um dia depois de contar sobre nosso trabalho e o propósito da Livraria, uma menina me pediu um abraço. Ficamos uns 30 segundos abraçados emocionados.

Até aconteceu um dia que uma diretora de uma escola bilíngue famosa em São Paulo quis comprar todos os livros que estavam expostos na estante naquele dia para a biblioteca da escola. Eram mais de 350 livros. E vendemos em um único dia. Na semana seguinte tínhamos que conseguir novas doações para fazermos a próxima feira.


Mais de um ano depois da nossa última feira com exposição dos livros no mixtura Criativa eu me lembro perfeitamente de como foram diversos destes dias.

Em 2 anos de Livraria já vendemos mais de 6000 livros.

Hoje a Livraria não é mais a principal fonte de recurso da ONG. Graças aos nossos padrinhos e madrinhas a Livraria representa algo em torno de 20% dos nossos recursos.


Entretanto, trabalhar com os livros como fazemos a quase 3 anos nos dá um prazer muito além do valor financeiro que ela nos trás.

Temos planos audaciosos para a Livraria Solidária, mas isso é para outro texto...