O VALOR DA LIBERDADE

Novembro 19, 2015

Roteiros servem para orientar, mas não limitar. Quando você embarca em uma viagem de mochilão, a proposta é decidir cada passo de acordo com o dia e a vontade. É ter liberdade para escolher.

Quando Luana e Rafael criaram o Projeto Pés Livres eles tinham a proposta de unir uma paixão – o esporte, com o voluntarismo. E lá estão, em plena Tanzânia, após subir (e descer) o Monte Kilimanjaro (veja aqui como foi).

O objetivo era percorrer um grande trecho de bicicleta até o Malawi Lake, parando por vilarejos e cidades, fantasiados de palhaços Táta e Cazé, levando esperança às crianças pelo caminho.

O ponta pé foi dado, na cidade de Moshi (base do Monte Kilimanjaro). Eles compartilharão alegrias com 280 crianças na Kilimanjaro Children Foundation durante alguns dias (veja aqui) e, na decisão de subir na bike e continuar o trajeto, a surpresa. Aquela surpresa que só uma viagem como essa te faz medir o valor da liberdade. “Sentimos que seríamos mais úteis aqui em Moshi, na escola e no orfanato. Sentimos vontade de fazer mais aqui do que fazer pouco ou nada, pedalando por aí. Estávamos sem tesão em pedalar por aquela estrada, que nos pareceu perigosa, com muitos ônibus e caminhões, que não respeitam as faixas, os espaços, não há acostamento e ultrapassam por qualquer espacinho que houver livre”, explica Rafael.

E assim, ambos decidiram que não fariam nada sem paixão. “Poderíamos ter pedalado, mas seria só para cumprir tabela, nosso coração tinha ficado em Moshi, com as crianças que conhecemos aqui no primeiro dia”, contou.

E agora?

Estamos dormindo na Guest House (a casa dos voluntários, com alemã, sueca, dinamarquesa, brasileira, entre outras pessoas), trabalhando e ajudando no orfanato.

Eles contaram que há muito o que fazer por lá: “já compramos corrente para concertar os balanços das crianças, estamos arrumando as camas do orfanato que estavam com bichos e precisavam de veneno, a aplicação do veneno já foi realizada e agora vamos terminar de pregar as tábuas e colocar no lugar. Estamos ajudando as professoras voluntárias a ensinar matemática, onde as crianças têm muita dificuldade para aprender. Estamos tentando também, junto com elas, achar um método mais eficaz para ensinar os números e as cores para as crianças menores.”

Aproximação

Luana e Rafael participaram da primeira eucaristia das crianças na Igreja Católica e todas ficaram felizes com a presença deles por lá. Foi uma missa com bispo e todo cerimonial.

O que esperar

Uma das maiores dificuldades para os idealizadores do projeto Pés Livres é conviver com a bagunça, sujeira, desorganização, desleixo. Por isso, há uma vontade enorme de mudar tudo, mas eles sabem que não irão conseguir.

“É muito frustrante não conseguir mudar muita coisa. Precisaria passar um ano aqui e ser responsável totalmente pelo orfanato. E mesmo um ano, talvez seria possível, são crianças que não tem a educação do pai e da mãe para depois reproduzir na escola. O que eles aprendem, aprendem na escola, com pessoas simples como eles. Pessoas que além de ensinar, cozinham, educam, limpam…Não dá. Melhor ajudar no possível.”

Dala Dala

Essa aí é a Van deles (Dala Dala), sempre lotada ao extremo, em um dos passeios da dupla por Moshi para fazer compras (do bolso deles): camisetas, bermudas, vestidos, roupas confortáveis para as crianças brincarem. Frutas para o lanche da tarde de amanhã, afinal não é sempre que ele comem frutas.