Meus olhos

Maio, 29 2020

Estamos a mais de 2 meses em casa, com saídas restritas.

Cada vez as restrições e regras vão aumentando nosso isolamento. Comércio abre e fecha, encontramos pessoas e amigos virtualmente, sem contato ou abraços.

O uso de máscaras foi aumentando e cada vez mais gente aderindo ao modelo. Cada pessoa usando um tipo de máscara diferente. Algumas coloridas, umas combinando com a roupa. Eu usando uma com logo da ONG. Ganhamos uma de um restaurante de delivery. Cada vez mais esse acessório entrando em nossa vida.

E conforme saio nas ruas e vejo gente usando máscaras, percebo o quanto agora tenho gente olhando nos meus olhos para entender que expressão eu tenho para compartilhar. O que meus olhos estão "falando"?

Antes falávamos com a boca somente. Muita gente nem olhava nos olhos para se comunicar.


E com isso lembrei de uma coisa, me conectei novamente ao meu propósito, me conectei com a força do que me levou a ter um trabalho com crianças na Tanzânia.

Em 2015, quando estivemos lá pela primeira vez, não sabíamos o quanto seria recíproco a troca de olhares. Isso por que já tínhamos, e temos, o hábito de olhar no olho com quem conversamos, com quem interagimos. Mas nem tínhamos a expectativa de encontrar isso, da pessoa mais humilde, passando pelos guias de montanha e por final com as crianças.

Mas foi isso que mais nos surpreendeu e nos fez amar esse povo. A conexão com o que acreditamos e com o modo de vida deles foi imediata.


Sorrimos pelos olhos. Nossos olhos são nossas portas para nossa alma. Ver uma pessoa feliz com os olhos brilhando é a forma mais linda de sentir o amor.

Encontramos isso nas nossas crianças. Aqui do meu lado tem uma criança que sorri com os olhos. Lá, a distância, temos outras 55 que sorriem com seus olhos brilhando de gratidão pelo amor que dedicamos a eles.


Hoje aqui no Brasil percebo que essa forma de enxergar o outro está entrando em nossa rotina. Já conseguimos ver os olhos sorrindo e o brilho de cada um está mais evidente.

Coisas novas que estão entrando em nossas vidas forçadamente.

Não tem sido natural, mas está acontecendo e esse aprendizado podemos levar para nossa vida, quando pudermos abraçar novamente nossos amigos. Primeiro olhe no olho, sinta sua alma, depois não economize no abraço.